quarta-feira, 14 de abril de 2010

A vida cíclica do freelance


O leão, porque não sabe quando voltará a ter comida, quando a tem, come até rebentar.

Quem anda no freelance sabe que é uma vida de ciclos.
Como uma onda, cuja linha sobe e desce de forma mais ou menos ritmada.
Alguns conseguem contornar ligeiramente este factor com avenças, mas regra geral é uma actividade marcada por períodos de muito trabalho intervalados por outros em que o trabalho é pouco ou nenhum. E mesmo as avenças tendem a terminar nas alturas de crise, deixando o freelancer completamente desamparado.

Porque acontece

Começa por haver tempo livre. Porque queremos ser artistas. Fazem-se uns bonecos, participam-se em blogs e concursos online, comentam-se os posts dos outros artistas, que verdade seja dita, a gente gosta de trabalhar mesmo quando não ganha nada com isso.
E o que acontece é que, o que para o incauto freelance é um momento de lazer, para um empreendedor exactamente a mesma coisa chama-se "networking".
Que se pode traduzir livremente por "fazer-se ver".
E com a visibilidade, naturalmente, começa a surgir o trabalho.
Entramos assim na parte ascendente da curva de produção do freelancer. Trabalho puxa trabalho, há uma presença forte na net, e invariavelmente os clientes aparecem aos jorros(ou pelo menos o suficiente para pagar as contas).
Como seria de esperar, um grande volume de trabalho implica uma dedicação quase exclusiva, o que significa uma redução drástica do tempo disponível, e lá se começa a cortar nas coisas menos "importantes", como fazer bonecos por prazer e comentar nos blogs.
E entramos na curva descendente.
Não é que não haja trabalho, mas começa a surgir com menos regularidade.
Afinal andámos desaparecidos, os clientes antigos já não se lembram de nós ou encontraram uma nova presença na rede e os novos nem sabem que existimos.
Até que o trabalho dá lugar ao tempo livre.
E o ciclo recomeça.

O dilema

Não seria agradável que o fluxo de trabalho fosse constante, e que ainda assim houvesse tempo para a fanart, os blogs, os concursos e o prazer?
Lá ser, seria, mas o síndrome do leão estraga tudo.
Não passa pela cabeça de nenhum freelance recusar um trabalho porque tem aquele tempo reservado para o networking. Trabalho é sempre trabalho. E se aquele é que era o "tal" cliente? E se o cliente vai ter com outro ilustrador e não regressa mais? Então andei a investir no networking para depois andar a recusar clientes? Vou deitar isto tudo a perder porque quero ler uns blogs? E? E? E?

Não.
Deitas tudo a perder precisamente porque deixas de ler os blogs.

Lidar com o networking

O que é que se pode fazer então?
A resposta é simples: disciplinar a coisa.
Reconhecer que o tempo passado em contacto com o mundo exterior não só é essencial para a nossa sanidade mental como é a única coisa que nos vai manter a trabalhar.
Há quem guarde uma hora de manhã para "soltar a mão", para ler os feeds, para socializar um bocadinho, quase como o coffee break numa qualquer empresa. Outros preferem fazê-lo ao fim do dia, quando já despacharam o trabalho e não têm que gerir a ansiedade do ter que fazer.
Cabe a cada um definir o investimento que vai fazer na publicidade ao seu negócio - que no fundo não passa disso - e que no caso do freelance se paga com tempo.
Reservar a altura do dia que considera ideal, seja pela paz de espírito seja porque é a altura em que as pessoas que interessam estão ligadas, e mostrar-se activamente.

Com a vantagem de saber que não só se está a divertir com o que antes era apenas um momento de lazer, mas que também está a dar um passo essencial para reduzir a barriga da curva do trabalho para uma coisa mais próxima da linha recta.

E talvez não sejamos tão duros quando os clientes num aperto começam por cortar na publicidade, afinal fazemos o mesmo.

O networking também se faz entre colegas

Agora partilhem os vossos momentos de networking: que sites e blogs visitam regularmente? Que método preferem, e quanto tempo reservam para a socialização?

artigo também em serfreelance.com

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