segunda-feira, 29 de junho de 2009

Quanto cobrar?

A grande pergunta que oiço de gente jovem que se inicia nas lides do freelance:
-"Quanto é que devo cobrar por determinado trabalho?"

Mesmo entre os profissionais estabelecidos, esta pergunta não tem uma resposta fácil. Há sempre o medo de cobrar acima dos valores de mercado e assustar o cliente ou de cobrar abaixo e não só perder dinheiro como demorar uma eternidade até se conseguir cobrar um valor justo porque ficamos "marcados" por aquela bitola.
Alguns grupos partilham tabelas para terem uma ideia do que cada um cobra e não queimarem o mercado, oferecendo valores demasiado baixos.

Apesar de o valor de um trabalho estar directamente dependente da qualidade, experiência e nome na praça de um profissional, as bases com que devemos calcular o nosso valor são as mesmas.

Primeiro: saber quanto tenho que fazer para sobreviver.
Isto implica pagar as contas correntes(renda, agua, gas, luz, alimentação, etc.), o equipamento e software, formação e gastos ocasionais.
Portanto a base do valor/hora abaixo da qual perdemos dinheiro a trabalhar, a que os anglófonos chamam "break-even", é fácil de calcular. Somem as despesas correntes do mês, dividam por 176 horas (22 dias úteis a 8 horas de trabalho por dia) e têm o valor que precisam de cobrar por hora só para sobreviverem.
Daqui é relativamente simples fazer uma estimativa do tempo que vai demorar a fazer um trabalho e calcular o seu valor base.
Segundo: o lucro.
É aqui que a coisa complica. Um principiante poderá estar interessado em abdicar de algum lucro para construir primeiro uma carteira de clientes. Mas como dizer passado algum tempo a esses clientes que o trabalho que vêm fazendo por aquele valor passou a ser mais caro?
Como afastar o estigma do "artista baratinho"?
Pessoalmente, qualquer empresa só existe para ter lucro, portanto porque não o fará um profissional liberal?
O processo é o mesmo para calcular o lucro: estimar o quanto gostariamos de ter ao final do mês, distribuir pelas horas de trabalho e acrescentar ao valor/hora.
Os ilustradores costumam chamar a este valor acrescentado a "licença de reprodução".
A execução do trabalho faz o break-even, mas o cliente não quer o desenho para pendurar na parede, quer fazer dinheiro com ele, publicar. Portanto, é apenas justo que o ilustrador também tenha lucro. Como o lucro que o cliente vai ter depende muito do tipo de publicação que vai dar ao trabalho, uma licença de reprodução, que tem em conta coisas como o uso, a àrea de cobertura, a duração, a tiragem e as edições, torna-se um acrescento justo ao valor base, porque leva em conta o potencial de lucro que o cliente vai ter.
É claro, isto partindo sempre do principio que o valor inicial do vosso lucro mensal é realista, mas se olharem para as vossas despesas comuns não terão dificuldade em encontrar um valor adequado.

Qual é o vosso processo de calcular quanto cobrar a um cliente?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O que os clientes dizem e o que realmente querem dizer ...

"É um trabalho de caridade."
Todos os envolvidos vão ser pagos menos tu - a grafica, o designer, o angariador de fundos e até o puto que vai distribuir as coisas.

"Vai ser uma boa maneira de te expores."
Tal como passear na cova da moura com um cartaz que diz "odeio pretos".

"Vais compensar o vencimento com os próximos trabalhos."
Mas não connosco, nos vamos evitar-te depois disto.

"Só vai ser usado na net."
Onde vai estar durante anos e ser visto e feito download por milhares de pessoas, para meu benificio, mas tu não vais ganhar nada com isso.

"É para fins educacionais."
Vais aprender uma lição.

"Parece fantastico, mas queremos algumas mudançazinhas."
A secretária do patrão rabiscou umas tretas e queremos que fique parecido com aquilo.

"A nossa revista não é uma públicação comercial".
Vende 40,000 copias por semana e mesmo assim não queremos pagar aos talentos.

"Faz qualquer coisa rápida."
Mas se não ficar fantastico vais ouvir criticas à brava.

"Faz qualquer coisa simples."
Qualquer imbecil consegue fazer isso, por isso é que te escolhemos a ti.

"Não posso pagar muito."
Mas não quero que pareça barato.

"Entraremos em contacto consigo."
Encontramos um sem-abrigo disposto a fazer o trabalho por uma garrafa de camilo alves.

"Podes começar o mais rápido possivel?"
Tivemos o trabalho aqui pendurado durante semanas, mas agora o problema é teu.

"Temos alguma urgência."
Já temos o trabalho aqui há 3 semanas, mas o sobrinho da secretaria do patrão passou esse tempo a rabiscar umas tretas que o patrão odiou.

"Como o cartoon só será utilizado dentro da empresa, sai mais barato?"
Esqueci-me de referir que a empresa é uma multinacional com mais de 100.000 trabalhadores.

"Não percas muito tempo com isso."
Trabalha a noite toda, mas cobra-me só 5 minutos.

"Isto pode significar mais trabalho para si junto da nossa empresa."
Temos uma vaga excelente para senhora da limpeza que paga menos que o ordenado minimo.

"Gostaria de lhe enviar um exemplar como prova da nossa gratidão".
Um belo pisa papéis para as contas por pagar.

"Devido á crise económica não será possivel continuarmos a usufruir dos seus serviços na nossa publicação."
Em vez de diminuir o meu bónus anual e baixar a gama do carro, tu vais ser o bode expiatorio.

"Consegues realmente viver disso?"
Não devias estar a morrer á fome e a viver na rua?

"O cheque está no correio."
Virtualmente.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Por onde começar

Bem, por onde começar um blog sobre isto de ser "artista" e trabalhar por conta própria?
Talvez por responder à velha questão:
"Será que eu dava um freelancer?".

No meu ver, qualquer pessoa pode ser freelancer. É certo que exige algumas caracteristicas especificas de personalidade, mas com a fragilidade do actual mercado de trabalho o mais normal é que mesmo o trabalhador por conta de outrém as ande a desenvolver, se quer manter o emprego.

Para começar a pessoa deve ter alguns requisitos práticos, como ter um local para trabalhar, ter tempo para o fazer, ter um minimo de conhecimento de como se gere um negócio (finanças, contacto com clientes, registos, etc), ter um minimo de conhecimentos de networking, para se fazer chegar ao cliente e vice-versa, e finalmente e o mais importante, ter algo para oferecer que os outros queiram.
Se o que oferecem tem mercado é um assunto que deixaremos para depois.

Ora cumprindo estes requisitos, que são de ordem mais prática, o resto é uma questão de personalidade. Deve existir alguma capacidade de organização e comunicação, a pessoa deve ser capaz de se auto-promover, deve estar disposta a trabalhar no duro (a maioria das vezes o freelance é um trabalho duro. Tem as suas vantagens, mas a ligeireza não é uma delas) e principalmente deve possuir a tão falada auto-disciplina.
Caramba, isto parece o mais dificil!
Mas muitos trabalhadores já possuem estas caracteristicas. Talvez o motivo porque as tiveram que desenvolver não seja o mais agradável, mas o facto é que 90% da população é capaz de se levantar à mesma hora para ir trabalhar sem que o patrão tenha que ligar a perguntar se já acordou. Isto já de si exige uma grande auto-disciplina.

Voltando à pergunta, depois desta lista enorme de pré-requisitos, a resposta pode não parecer tão fácil. Mas eu creio que grande parte dos defeitos funcionais do trabalhador por conta de outrém de devem precisamente ao facto de não estarem a fazer por si próprios. O freelance continua a ter patrão que passa o cheque, muda é a cada trabalho. Continua a ter que se levantar áquela hora, a hora é que pode mudar todos os dias. E no final, o ordenado no banco e o tempo para o disfrutar são as duas grandes mais-valias deste modo de vida. Isso e fazer o que se gosta, que dá uma grande ajuda.

E vocês, acham que qualquer pessoa que se predisponha pode ser freelance?